sexta-feira, 21 de abril de 2006

...não


...não foste, não disseste para onde ias. Fugiste sem nada me dizer. De repente como uma brisa de vento. Quente. A tua voz desvaneceu perante mim. O teu sorriso que aquecia e percorria todos os recantos da minha alma e de quem o olhava dá lugar a um profundo vazio; negro; frio; escuro. Um nada. Um tudo. Que deixaste de preencher. Um vazio. Que nos deixaste a ver. O sentir que levaste contigo. Sabias ver, eras especial. Eras rara. Eras tu. Tu e o teu olhar que era profundo e doce mas que poucos o sabiam ler. Ainda o leio na minha mente e de cada vez que o sinto descubro sempre novas letras, novas palavras, novos entendimentos. As tuas frases não são velhas, estão presentes, estão comigo, estão no meu coração de cada vez que sinto o calor do teu olhar. Tinhas tantas letras no teu olhos que me deixavas sempre analfabeto. Percebia muitas delas mas mais eram ainda as que ainda não conseguia ver. Percebias-me. Sentias-me. Lias-me. Ás vezes era desconfortavel. Já fazias de propósito e ainda bem. Sentia-me nú com esse teu olhar. Conseguias ver através de mim. Vias-me com a alma. Vias-me a alma. Desconforto agora confortavel nos meus pensamentos de ti. Não quero. Não quero que vás. Enganaste-me. Sempre enganaste tudo e todos e até a ti. No fundo sabias, e eu no fundo tambem sabia que tu sabias, mesmo sem nunca termos dito tais palavras. Mas não fazia mal. Era de ti, de mim, do nosso silencio inquebrável. Quem não te olhava nos olhos ou olhava e não te sabia ver, sentia-te implacável. Mas não sei porquê para mim sempre te senti suave como o tempo. Tempo que parava contigo. Ainda não acredito que tudo não passe de um pesadelo. Ainda ontem tu estavas aqui como o vento. Levaste parte de mim. Parte da minha alma, das minhas lágrimas, estão em ti. Guardas em ti os olhares perdidos, os sorrisos escondidos entre silencios que diziam tudo e não escreviam nada. Deixas em mim um nada. Um vazio enorme cheio de ti. Ainda não senti que não estás aqui mas já sinto a tua falta. Falta sempre palavras. Nunca as tive contigo. Agora só me resta deixar estas aqui e esperar que o que te estive a ensinar durante os nossos olhares seja agora por ti compreendido nestas palavras.
Mas não. Não foste. Porque o teu sorriso e alegria de viver iluminará para sempre as memórias daqueles que te realmente conheceram e sempre acreditaram em ti. Não foste, estás em mim...